PAI AZUL
O casal falava alto. Pedia ajuda à funcionária da papelaria para comprar pincéis e tintas. Para a neta. Tem sete anos e é muito criativa. Dizia o avô. A avó falava um pouco mais alto e usava mais palavras. O pai dela morreu tinha ela 3 anos. Dias depois pintou um retrato dele. Todo azul. Só azul. Ainda está lá na parede da sala. Ela não pára de pintar e desenhar. E pela avó íamos sabendo um pouco mais. Que vivia agora com eles e que era esperta e feliz e muito talentosa e que gostava muito deles e que falava muito do pai. O avô procurava fotografias no telemóvel. Herdou o talento do pai. Está a ver? A funcionária, já do outro lado do balcão, respondeu que não, não conheceu o homem que via no pequeno ecrã. Ao ver a segunda fotografia respondeu com delicadeza. Muito bonita a vossa neta. E criativa, sublinhou a avó. Como o pai, suspirou o avô.